A autoregulamentação de setores da economia deve ser vista com cautela. Um exemplo recente foi a criação da lei dos SACs, já que os teleatendimento são horríveis, principalmente quando se quer cancelar um serviço. Todo mundo já se irritou com isso e todo mundo conhece uma história absurda para contar.
Quando o governo criou a lei, o setor todo se mobilizou e colocou a autoregulamentação como a melhor forma para criação de regras que atendam de forma satisfatória os clientes. Nem o maior investimento em marketing poderia mudar a cabeça da população em um caso como esse, é público e notório que esses serviços destratam os consumidores. E muitas empresas desrespeitam a lei e continuam com o mesmo tipo de atendimento.
Também tramita na Câmara Federal projetos de lei que objetivam a proibição de qualquer tipo de propaganda para crianças. Novamente todo o setor (anunciantes, agências e veículos) foram para rua conclamando a autoregulamentação, além de previsões de demissões.
Mas toda essa introdução é para falar da recente decisão da Nestlé, Burger King, Danone, Coca-Cola, Kellogg's, Pepsico, Kraft, Unilever e outras gigantes da alimentação mundial em não anunciar mais para crianças de até 6 anos de idade (link). Pois hoje estava lendo uma matéria na Meio & Mensagem impressa em que executivos de veículos diziam que essa medida não vai impactar nos resultados, pelo contrário, iria aumentar, já que a veiculação seria voltada para os adultos e em horário nobre, mais caro.
Num primeiro momento todos alegam que haveria demissões em caso de restrições, pouco tempo depois alegam que não haverá impacto. O discurso muda de acordo com a ocasião.
Cabe aqui outro aspecto sobre o assunto, mais pedagógico: as crianças sempre se espelham em outras mais velhas, ou seja, uma de 6 anos vai tentar adotar um comportamento e de crianças de 8 anos. Essa é uma forma de ludibriar todo o sistema e continuar anunciando para esse público. Me causou grande estranheza, o depoimento de Fábio Acerbi, da Kraft, dizendo que a empresa para qual trabalha não anuncia para crianças de até 12 anos dese 2004.
A Kraft possui a marca de biscoitos Trakinas, que constantemente vejo anunciar para crianças, principalmente comerciais que confrontam a autoridade de adultos, ambientados em salas de aulas ou acampamentos. Não achei essas peças no YouTube, mas veja a abaixo e me diga qual a faixa etária do anuncio:
Veja aqui uma postagem que fiz sobre anúncios para crianças.
Vale ressaltar também que essas medidas de restrição adotados pelas empresas vieram depois de muita pressão da sociedade, já que em muitos países, não no Brasil, como Estados Unidos, Canadá e outros na Europa, existem diversos grupos que combatem com força a publicidade infantil. Visando evitar uma regulamentação por parte do governo, eles tomaram a iniciativa. No Brasil a principal organização é o Instituto Alana. Vale a pena dar uma visitada no site e ver algumas das ações movidas.
Essa postagem não é contra ninguém, tem apenas como objetivo mostrar as contradições do setor (que ocorrem em qualquer outro) e contribuir com a discussão.