Outro dia assisti Unthinkable (Impensável), com Samuel L Jackson. O filme é muito bom, um roteiro que deixa qualquer um com os nervos à flor da pele do início ao fim. Como cinema sua qualidade é inegável, mas é extremamente pernicioso para a sociedade.
Já li em diversas fontes que o Pentágono e o governo dos Estados Unidos, além de financiarem filmes de guerra, dão suporte técnico para a produção. Desde a permissão de utilização de instalações militares nas gravações até acesso a equipamentos de uso restrito, imagens de arquivo e consultoria sobre a forma de operação de órgãos de defesa. O objetivo é sempre o mesmo, colocar a opinião pública a favor das invasões e recrutar soldados. Para saber mais sobre o assunto, leia Hollywood a serviço do Pentágono. Apenas para ilustrar e corroborar essa informação, assista abaixo o trailer do filme Jaherd, (título no Brasil Soldado Anônimo), de 2005. O filme invoca conceitos como amizade e patriotismo para tocar o jovem estadunidense e convencê-los a se alistar. Preste atenção na última frase:
I love this job. I thank God for every day he gives me in the corps.
Freqüentes escândalos de tortura e maus tratos em instalações militares dos Estados Unidos colocam a opinião pública contra o governo, abalando não só a imagem dos órgãos de defesa do país como a dos políticos que e militares envolvidos nestas práticas. Os principais casos são os envolvendo as prisões de Abu Ghraib e Guantánamo. Estava na hora de convencer o mundo que esses métodos são válidos quando se trata da segurança nacional, e nenhuma ferramenta é mais eficaz do que um blockbuster com um astro respeitável como Samuel L Jackson.
Mas será mesmo que um filme tem todo esse poder de persuasão? Essa é uma discussão antiga. Outro dia postei um comentário sobre uma peça da ABAP e ABA que questiona exatamente isso. Não vou entrar neste assunto, mas uma coisa é certa: quanto menor a capacidade de uma pessoa em fazer análises críticas mais ela será influenciada pelo meio, e grande parte da população não está preparada intelectualmente para fazer essas análises. Eles apenas absorvem sem grandes reflexões todos os produtos que consomem, tornando-as mais propensas a manipulação. Como o capitalismo é baseado no consumo, o comportamento impulsivo é estimulado. Isso não é uma crítica, estou apenas fazendo um comentário sobre sua forma de funcionamento.
Voltando ao filme, o personagem de Jackson é um especialista em tortura do governo, recrutado em situações extremas. Seu objetivo é arrancar de um terrorista a localização de três bombas nucleares espalhadas em grandes centros urbanos dos Estados Unidos. O seguinte questionamento é lançado: até que ponto, a fim de salvar milhões de vida, uma sessão de tortura pode chegar? Será que qualquer método é válido, até o impensável, the unthinkable?